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Porcaria por porcaria, que tal desligar a TV?



No último domingo, Silvio Santos soltou mais uma de suas máximas: "Vocês que estão em casa, não troquem de canal: porcaria por porcaria, fiquem aqui no SBT."
Imediatamente, a frase repercutiu na blogosfera e nas redes sociais e já nasceu com lugar seguro no panteão de dísticos antológicos sobre a televisão brasileira. Apesar de ter falado em tom de galhofa, o patrão não poderia estar mais certo sobre a porcaria generalizada que invade nossas casas diariamente via emissoras de TV. E que ninguém se engane: o SBT desponta como um dos campeões da porcariada a que assistimos.
Mas, porcaria por porcaria, podemos ficar com as novelas da Globo. Mesmo tendo alcançado bons índices de audiência, como há muito não se via, a novela de Gloria Perez que vai terminando essa semana não pode ser acusada de ser uma boa novela.
Sensacionalista, nos contou a história de Bibi, alçada a rainha do tráfico porque amou demais um bandido... Moralista, vai castigar a Bibi no final da trama. De memória seletiva, esquece as chacinas protagonizadas pela PM no Rio ou em São Paulo para, indiscriminadamente, homenagear a corporação. No Brasil idealizado da autora, o crime não compensa. Ou melhor, apenas um certo tipo de crime não compensa.  
Cumpriu uma função social importante: a de desvelar aos olhos do grande público a trajetória de um transexual na busca por entender suas próprias questões de identidade de gênero. No país do ódio desembestado, que mata mais LGBTQs no mundo, qualquer iniciativa que ajude a quebrar preconceitos é bem-vinda. Mas é tanta fantasia em torno (sereismo, vício no carteado, falsa gravidez...) que a história de Ivan acaba se tornando apenas mais uma, diluída no meio de um furdunço que teve até boto em Belém do Pará.
Da substituta que se avizinha, não podemos esperar menos excessos - o autor é Walcir Carrasco, dado igualmente a excessos e sensacionalismos. As primeiras noticias que chegam sobre a nova trama dão conta de uma anã entre o elenco principal. Estaremos voltando aos tristes tempos da pornochanchada do cinema brasileiro dos anos 70, onde anões e gays caricatos eram presença obrigatória? A conferir.
Nas séries, de maneira geral, cada vez mais ação e melodrama. Querem nos tirar o fôlego para ver se não percebemos a falta de substância e a pobreza dramatúrgica que nos estão sendo oferecidas.
Porcaria por porcaria, escolha qualquer um dos inúmeros e dispensáveis talk shows que vicejam em qualquer canal que for sintonizado.
Ironia das ironias, é um humorístico que se destaca como o melhor de todos os programas de conversa em exibição hoje na televisão pátria: o Lady Night, no Multishow. Mesmo conduzindo uma paródia e metaprograma, Tatá Werneck logrou, entre outras proezas, em deixar Neymar completamente à vontade (mesmo criticando abertamente sua duvidosa visão sobre moda e estilos de corte de cabelo). Conseguiu até arrancar dele uma quase declaração de amor para a musa Bruna Marquezine. É o oposto diametral do programa do Bial que, por se levar a sério demais, não convence - e nem decola.    
Definitivamente, o melhor da TV mundial não está sendo oferecido para o telespectador brasileiro. Primeiro, porque o melhor não está sendo feito aqui. Segundo, porque o que há de melhor não chega até nós - quer seja por incompetência dos departamentos de compras das emissoras, quer seja por pura preguiça ou desinteresse.