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Ex-cardeal é clérigo de mais alto escalão a responder por crime de pedofilia

 



O desabafo é de quem enfrentou um pesadelo. “Nós queremos vê-lo na cadeia pelo resto de sua vida”, afirmou ao Correio Eduardo Lopez de Casas, líder da Rede de Sobreviventes de Abusos Praticados por Padres (Snap) em Houston (Texas). Ele se referia ao ex-cardeal norte-americano Theodore McCarrick, 91 anos. Um tribunal de Massachusetts acusou McCarrick de abusar sexualmente de um adolescente em 1974

De acordo com a queixa criminal, o ex-arcebispo de Washington apalpou um garoto de 16 anos — cujo nome não foi divulgado — durante a recepção de um casamento. Então, levou-o para uma sala e tocou-lhe os órgãos genitais enquanto “rezava”. McCarrick responderá por três acusações de agressão indecente e abuso. Em 2019, ele transformou-se no clérigo de mais alto nível da hierarquia católica a ser expulso da vida religiosa e reduzido ao “estado laico”. A data para a divulgação da sentença não foi informada. A Justiça intimou o agora réu a comparecer ao tribunal em 26 de agosto. McCarrick mora atualmente em Dittmer (Missouri), em uma casa para onde clérigos que cometeram abusos sexuais e outros padres problemáticos são enviados.

“Para nós, é muito importante buscar a justiça para as vítimas de abuso sexual. No caso de McCarrick, ele poderá ser um bom exemplo para que as pessoas entendam a importância da justiça. Não esperamos menos do que 15 anos de prisão”, disse Eduardo, que contou ter sido abusado por um padre da Igreja de Santa Maria quando tinha 16 anos. “Eu também havia sofrido abusos por parte de vários professores em uma escola de Galveston, no Texas”, acrescentou. Ainda segundo Eduardo, apesar de McCarrick ter perdido sua posição de clérigo, os casos o perseguem. “Há várias vítimas e a cada dia aprendemos mais sobre as histórias delas. O que esperamos é que sigam falando sobre as vítimas, pois os mais altos (postos) da Igreja estão caindo. O papa Francisco acompanha os casos.”

“Dia monumental”

Presidente nacional da Snap, Shaun Dougherty celebrou as acusações contra o ex-cardeal. “É um dia monumental para os sobreviventes de abusos sexuais cometidos por clérigos. Um dia que jamais imaginava chegaria. O termo aqui é ‘prestação de contas’”, afirmou ao Correio. “A lei dos Estados Unidos pode realmente ser mais forte do que a Lei Canônica. Isso torna mais seguras as futuras gerações de crianças.” Mitchell Garabedian, advogado da vítima de McCarrick neste caso, disse que o seu cliente mostra “uma enorme coragem, ao ser reclamante no processo criminal”. “Este é o primeiro cardeal dos EUA a ser acusado por um crime sexual contra um menor”, sublinhou ao jornal The Boston Globe.


Até ontem, McCarrick parecia fora dos radares dos tribunais. Vários homens entraram com ações civis em Nova York e em Nova Jersey contra o ex-cardeal, sob a alegação de que foram abusados por ele entre 1970 e 1990. No entanto, o prazo dos casos sempre prescrevia, o que impedia a imputação de acusações criminais contra ele. De acordo com o site Bishopaccountability.org, a Igreja Católica dos Estados Unidos recebeu denúncias de mais de 18.500 vítimas de abusos sexuais por parte de mais de 6.700 clérigos entre 1950 e 20164.