Tuberculose: doença volta a crescer no país e resistência a remédios preocupa
Após dois anos de relativa queda, os números da tuberculose estão voltando a crescer no Brasil e, em alguns locais, os casos de infectados com cepas da bactéria resistentes a antibióticos geram preocupação. Um dos focos de atenção é o Rio de Janeiro, relata a Fiocruz.
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Os casos de tuberculose no país, que chegaram a cerca de 78 mil ao ano antes do surgimento da Covid-19, caíram para 68 mil nos últimos dois anos. Os números de 2022 ainda não estão consolidados para compor uma nova estimativa, mas especialistas acreditam que a doença deve voltar agora ao o ritmo de avanço observado pré-pandemia.
— Já estamos retomando esse ritmo, e notamos isso no laboratório,pelos testes que fazemos, que já estão voltando aos números anteriores à pandemia — diz a microbiologista Lucilaine Ferrazoli, do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, um dos centros de referência para monitorar a tuberculose no Brasil.
— Pesquisas estão sendo feitas para avaliar qual foi o impacto da pandemia no acompanhamento da tuberculose, mas eu acredito que a gente vai ver uma retomada da notificação de casos, até porque esses casos nunca deixaram de existir — completa a pesquisadora.
Um sinal de que a doença não recuou é que, apesar da queda na notificação, os casos que resultam em mortes não se reduziram, e continuaram na faixa dos 4.500 ao ano. Se as infecções se reduziram por conta do isolamento social, possivelmente a perturbação da pandemia no atendimento médico a outras doenças prejudicou o tratamento da tuberculose.
O inverno é a temporada de maior risco de transmissão, o que permite aos médicos terem uma impressão melhor de qual será o impacto da doença no ano.
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Na prática, porém, é difícil ter um quadro epidêmico no meio do ano, porque a tuberculose é uma doença com curso de tratamento longo. Os casos graves com os sintomas típicos de pneumonia, tosse com sangue e perda de peso, podem levar meses para uma cura, quando não resultam em óbito.
Por conta desse ciclo demorado, os boletins epidemiológicos que a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde divulga são anuais, apesar de os números poderem ser consultados no Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).
A situação no Brasil não é particularmente grave, dizem médicos, porque o país padronizou o tratamento da doença e conteve o uso indiscriminado dos antibióticos, particularmente a rifampicina e a isoniazida, formuladas numa cápsula só. O recente avanço de cepas resistentes aos medicamentos, porém, preocupa.
— O Brasil não faz parte do grupo de 26 países considerados de 'alta carga' de resistência no mundo, embora nós façamos parte dos 25 países com a maior carga epidemiológica de tuberculose — afirma a pneumologista Margareth Dalcolomo, da Fiocruz, pioneira nos trabalhos de monitoramento da doença no Brasil. — A despeito de tudo isso, vêm aumentando aqui as formas resistentes, incluindo a resistência primária, que é aquela que é detectada em alguém que nunca teve a doença e se contaminou a partir de uma pessoa portadora da forma resistente.