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Propina: como uma palavra inocente se afundou no crime

pedro barusco petrobras“Propina”, nossa Palavra da Semana, é um termo mais leve nos dicionários do que na vida real brasileira. Sinônimo de gorjeta, aquilo que se paga a mais por um serviço prestado satisfatoriamente, não tinha sequer registrado até poucos anos atrás, nem no Houaiss nem no Aurélio, o sentido de prática ilícita, suborno.
Isso mudou, felizmente. Hoje os dois mais importantes dicionários brasileiros já incorporaram, ainda que como acepções secundárias, aqueles sentidos criminosos que a imprensa mobiliza ao chamar de propina a fortuna – entre 150 milhões e 200 milhões de dólares – que o ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco (foto), declarou à Justiça ter sido paga ao longo de dez anos ao tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto (leia mais sobre isso).
Como foi que nós viemos parar aqui?
O certo é que nasceu inocente a propina, na expressão grega Tibi propino, que acompanhava os brindes com que um anfitrião saudava seu convidado – “Bebo à sua saúde!” – antes de dar um gole e lhe passar o copo. Prova de generosidade, sim, mas também voto de confiança e intimidade.
Passou com sentido semelhante ao latim propina e daí, já no século XVII, ao português, mas agora com uma importante ampliação de sentido. Não mais restrita à mesa, aos comes e bebes, a propina era assim registrada no início do século XVIII por Rafael Bluteau, o primeiro dicionarista de nossa língua: