Identificação com classe C religiosa faz PT rever campanha
Uma comunicação clara e focada no concreto, segundo analistas, torna-se um trunfo neste segundo turno para que as campanhas consigam falar à classe C. Além disso, a religião, identificada como algo relevante para esse grupo, também já tem aparecido como protagonista na disputa nas redes socais e deve continuar em evidência.
Especialistas apontaram erros do PT em ter se utilizado, por exemplo, de artistas e intelectuais para buscar voto para Lula no primeiro turno. Maurício de Almeida Prado, que faz pesquisas qualitativas com esse grupo na consultoria Plano CDE, diz que a classe C enxerga "um discurso de lacração, de esquerda arrogante progressista ou de um vitimismo, de grupos como os gays".Ele cita o movimento nas redes sociais que estimulava eleitores do PT a fotografar 13 livros de cor vermelha. "Muitos pensam: nunca li nem 13 livros, quanto mais vermelhos", diz o antropólogo. O partido tirou os artistas e passou a veicular vídeos com pastores evangélicos logo nos primeiros dias da campanha do segundo turno.
O desafio da comunicação também aparece no discurso de não violência, contra as armas, diz Prado, já que a população se vê entre facções criminosas e tráfico. A evidência de que o aumento no número de armas leva a mais violência, demonstrada em pesquisas, é mais difícil de explicar do que o discurso de que a arma serve para a pessoa se defender.
A religião surge, de acordo com analistas, muito atrelada aos valores morais na classe C. "Uma parte da narrativa desses segmentos de direita é de natureza dos costumes, há uma recuperação de um sentimento conservador, colado na fé religiosa, que existe na sociedade e foi trazido para o centro do debate", diz o professor da USP José Álvaro Moisés. A polêmica em torno da visita de Jair Bolsonaro a Aparecida foi um dos temas que se destacaram nas redes sociais na semana passada.
Apesar de as últimas pesquisas mostrarem que 30% da população é evangélica, como o último Censo demográfico foi feito em 2010 (e deveria ter sido repetido em 2020) os números podem estar defasados. Outros 50% se declaram católicos.