Hanseníase me fez ficar internada em hospital colônia e amputar perna e dedos'
Chegada no Brasil nos anos 1600, a hanseníase, antes chamada pejorativamente de "lepra", continua sendo um problema de saúde pública mais de quatro séculos depois.
O Brasil fica em segundo lugar no ranking de população acometida, com 18.318 casos diagnosticados em 2021, ano com o registro consolidado mais recente de dados epidemiológicos, o que faz com que o país fique atrás apenas da ÍndiaPor lei criada em 2009, o Brasil instituiu a data de 31 de janeiro como Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase.
A hanseníase é transmitida por meio de gotículas de saliva eliminadas na fala, tosse e espirro de doentes que ainda não iniciaram tratamento e estão em fases adiantadas da doença, já que o microorganismo responsável por ela, uma bactérica chamada de bacilo de Hansen, pode ficar incubado durante um período de dois a cinco anos.
Mas para que a transmissão ocorra, o contato precisa ser prolongado e próximo — como o de pessoas que vivem na mesma casa, por exemplo —, diferentemente de outras doenças infecciosas como a covid-19, que podem ser disseminadas por um contato mais superficial.
Ainda assim, não são todas as pessoas que entram em contato com a bactéria que desenvolvem a doença. "É necessário ter uma suscetibilidade genética à doença, relacionada a falhas na imunidade inata, ou seja, que vem desde o nascimento. Cerca de 10% da população é mais suscetível à hanseníase, mas isso não quer dizer que os outros 90% não possam ficar doentes - só é provável que desenvolvam quadros mais leves", explica Egon Daxbacher, médico do departamento de hanseníase da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
Embora a hanseníase seja marcada por feridas grosseiras na pele, que estigmatizam a aparência dos acometidos, sua importância para a saúde pública está relacionada aos danos que o bacilo de Hansen pode causar no sistema nervoso periférico (terminações nervosas livres e troncos nervosos), que podem ocorrer quando a doença não é diagnosticada e tratada precocemente.
Nesses casos, os doentes sofrem com a perda de sensibilidade nos membros, paralisias musculares e até incapacidades físicas permanentes, como atrofias ou necessidade de amputação de membros, quando o bacilo causa danos irreversíveis nas terminações nervosas.