Rádio Web Ferraz

Últimas notícias

Farmácia em Salvador usa "clientes falsos" para fiscalizar se funcionários coletam CPFs nos atendimentos

 


A cobrança indevida de informações pessoais, incluindo o CPF, em balcões de farmácia, faz parte de um esquema que começa antes mesmo do atendente pedir ao cliente que forneça os dados do seu documento. Uma ex-funcionária de uma farmácia em Salvador, que preferiu não se identificar, contou ao Metro1 detalhes das estratégias adotadas por essas drogarias para adquirir as informações.

Ana Souza* relatou que as farmácias têm colocado “clientes falsos” para checar se os atendentes cobram o CPF dos consumidores, como é determinado pela gerência. “A farmácia enviava uma pessoa se passando pelo cliente para saber como era o atendimento, se fazia tudo isso [coleta de dados] e se tinha algum problema no cadastro do e-mail, CPF”, revelou. 

Como mostra a edição desta semana do Jornal Metropole, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) já divulgou uma nota técnica informando que há indícios de coleta excessiva e de repasse desses dados para terceiros com outras finalidades. O advogado especialista em Direito Digital Diogo Guanabara explica que os riscos dessa coleta e armazenamento vão desde aquela importunação diária de ligações oferecendo ofertas até o vazamento para empresas que podem não ter o mesmo nível de proteção ou usar para fins ilícitos. Muitos criminosos conseguem, por exemplo, pedir empréstimos bancários apenas com dados como nome completo, RG, CPF e endereço.

Ana Souza disse que, ao obter os dados, a farmácia em que ela estava empregada conseguia acessar o histórico completo de compras dos consumidores. Segundo a ex-atendente, a drogaria justifica aos funcionários que a coleta de informações pessoais era exigida apenas para “traçar o perfil do cliente”. 

“E de tempos em tempos, passava um rapaz lá e perguntava como estava sendo a fatura de CPF, que era muito importante para o traçar perfil de cliente. Nos treinamentos da drogaria era sempre muito enfatizado que era muito importante a captura do CPF. Em caso de identificação de um erro, a gerência era penalizada e repassava para o funcionário”, acrescentou. 

Recentemente, Vitor Bertoncini, um dos executivos da RD Ads - empresa da rede proprietária da Drogaria Raia e da Drogasil - afirmou que, enquanto nos Estados Unidos pedir o CPF é considerado caso de polícia, no Brasil 97% dos consumidores o fornecem em troca de descontos.

*Nome fictício usado para proteger a fonte