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Glória Maria: ‘Os homens negros preferem as brancas’


Imagem: Divulgação.
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Glória Maria deu uma entrevista especial pelo Dia da Nacional da Consciência Negra à colunista Lu Lacerda. Na conversa, publicada neste domingo (19) no portal IG, a jornalista, que foi a primeira repórter negra na televisão no país, respondeu a 10 perguntas sobre racismo. “Já vivenciei todas as caras do racismo na minha vida”, afirmou.
Sobre as dificuldades que um negro enfrenta para se realizar profissionalmente, Glória Maria lembra: “Quando comecei a apresentar o Fantástico, em 1998, muita gente fez movimento, dizendo que foi por pressão do movimento negro, e não pelo meu talento e minha capacidade. Se um branco faz, é porque conquistou; ninguém diz que foi pressão da sociedade branca. A primeira vez que o Eraldo Pereira assumiu a bancada do Jornal Nacional, virou algo extraordinário: ‘como um negro apresentando o JN?’. Significa pro mundo que não era natural, tanto que tinha de se justificar, como se fosse o primeiro homem a chegar à lua. Comigo, às vezes, se passa também de maneira diferente – vão pensar duas vezes, são racistas, ou seja, burras, mas não são idiotas. É como se eu fosse um troféu: ter a Glória Maria, uma negra famosa, conhecida, como se dissesse ‘a gente demonstra que não é racista, a Glória tá aqui’; mas vai a Glória Maria pisar na bola, e diriam: ‘Tá vendo? Isso é coisa de crioulo’. Esta semana, saiu uma estatística apontando que 71% das vítimas de homicídios são negras. Levei um susto e pensei: até parece o movimento de extermínio de uma raça”.
Ao ser perguntada por que normalmente seus namorados são negros, ela respondeu: “Os homens negros preferem as brancas. O próprio negro se discrimina; para ele acreditar que venceu e tem status, precisa usar os valores brancos, como as suas mulheres, por exemplo. Quanto mais escura a sua pele, mais excluído você é”.
Além de afirmar que suas filhas, Laura, de 8, e Maria, de 9 anos, já sofreram discriminação na escola onde estudam, a apresentadora lembrou um caso curioso sobre a descoberta rica da diferenças. “Quando estive no interior da Sérvia e fui conversar com uma velhinha, descobri que ela nunca tinha visto um preto na vida; ela não sabia que existia gente diferente dela. Sua alegria quando me descobriu foi inacreditável, percebendo a diferença e que o mundo poderia ser muito mais bonito. Ela não queria mais me deixar ir embora”, disse.
Glória comentou também os casos polêmicos recentes envolvendo o jornalista William Wack e a ministra Luislinda. “A frase não é do William – é do universo. Ter dito uma frase racista não significa que ele especificamente seja racista. Convivi a vida inteira com o William e nunca percebi nele uma demonstração de racismo. Waack simplesmente teve uma reação inconsciente, que expressa o racismo. Chegou a esse ponto: uma reação inconsciente. Esse tipo de coisa é uma piada como fazem com português. Quanto à ministra Luislinda, ela fez o que todos eles fazem: acumular cargos. Ela não pode? Seria a única? É negra e teve a “ousadia” de conseguir ser ministra. Por que nunca se falou isso dos outros? É o que eu falei no início: “é coisa de preto”. O erro é sempre negro; o acerto é sempre branco”, encerrou.