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A justiça brasileira só falta fazer uma massagem na Vale, BHP e Samarco pela destruição em Minas Gerais

 Vista da barragem do Fundão, em Mariana (MG), local onde houve o rompimento e vazamento de ao menos 40 bilhões de litros de lama de rejeito de minério.

Vista da barragem do Fundão, em Mariana, local onde houve o rompimento e vazamento de ao menos 40 bilhões de litros de lama de rejeito de minério. Foto: Avener Prado/Folhapress

OITO ANOS SE PASSARAM desde o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana. Oito anos de desrespeito e violações de direitos. Na semana passada, mais um tapa na cara: o interrogatório dos réus, no processo movido pela justiça federal, aconteceu num clima de total cordialidade, como se fosse uma conversa entre amigos. 

De um lado, os executivos da Samarco, Vale e BHP exaltaram os compromissos com a segurança da barragem de rejeitos, como se fizessem duas vezes mais do que o exigido pelas normas. Para piorar, ainda culparam um abalo sísmico como responsável pela tragédia que matou 20 pessoas – uma teoria que o próprio Ministério Público já havia descartado em 2016.

Do outro lado, promotores e juízes camaradas, cuidadosos com os réus: “responda se quiser, sinta-se à vontade”Eu me formei em direito após a tragédia, e não foi isso que aprendi ao longo do curso. Não é essa a postura correta que se espera dos promotores. É preciso questionar. E nenhum deles fez a pergunta básica: por que vocês permitiram que isso acontecesse? 

Eles sabiam da trinca na barragem desde 2014, fizeram apenas remendos, adotaram medidas paliativas. Segundo os laudos da própria Samarco, se algo acontecesse a consequência seria um “transbordamento”. 

Eles não disseram até onde esse transbordamento chegaria, quais seriam os danos – e ninguém se preocupou em questioná-los durante o interrogatório. 

Eu vi até onde o transbordamento chegou. Chegou na minha casa, no meu bairro. Mas eu só fui saber disso na manhã do dia 6 de novembro de 2015, depois de uma noite acordada atrás de informações. Até então, eu não tinha noção do tamanho da tragédia – por conta do trabalho, na hora do rompimento eu estava em Mariana e não tinha recebido notícias concretas da situação. Subi num barranco alto perto da estrada de Santa Rita Durão, distrito de Mariana, e consegui ver Bento Rodrigue